terça-feira, 17 de setembro de 2013

A Noiva Ispilicute



Havia, na cidade de Sobral, uma noiva que não tinha tristeza na vida que acabasse com a sua felicidade. Ela achava graça de tudo e até rezando sorria. Era a noiva mais ispilicute da cidade. No dia do seu casório, queria que a festa fosse o espelho de sua ispilicutez. Era, sem dúvida, a mais assanhada e sonhadora das mulheres que subiria o altar da Santa Sé.
Tudo foi preparado como ela queria. Todos as vontades eram cumpridas com zelo dos pais da noiva. Até o enxoval era a cara de seus mais loucos caprichos. Na véspera do casamento, a noiva ispilicute era a ansiedade em pessoa. Pense num aperreio. Avisou a todos que nem ia dormir. Foi aí então que começou a se desenhar um furdunço. Uma amiga organizou às escondidas uma despedida de solteira para ela. Ela ficou numa felicidade só. Caiu no rala-coxa e dançou com os cabras a noite inteira. Achou graça de tudo e se divertiu até o dia amanhecer.

Só se lembrou do casamento quando saiu do forró. Nem dormiu. Cumpriu todo o ritual da noiva e, quando viu, já estava na porta da igreja. Foi a primeira noiva de Sobral que não se atrasou. Chegou meia-hora antes. Mas o noivo ainda não estava lá. E o tempo passou, passou, passou e nada do macho chegar. Preocupada, ela botava e tirava a maquiagem.

Quando tudo parecia perdido, eis que chegou o noivo. O bicho tava com uma cara feia, enfezado, parecia contrariado. Ele invadiu a sacristia, puxou a noiva ispilicute para o altar e avisou que não haveria mais casamento nenhum. O povo ficou doidinho. Todo mundo queria saber por quê do cancelamento. Pois o homem, sentido a pior das dores de corno, gritou que a noiva passou a noite ralando o bucho no forrobodó de madame Iracema. Mas a noiva não tinha feito nada demais. Era só a sua ispilicutisse.

Conversador, o macho saiu da igreja e ainda avisou a todos que já tinha bólido com a moça. A miséria estava feita. O povo virou às costas para ela que, abandonada e humilhada, chorou pela primeira vez na vida. Rasgou o vestido e saiu correndo pelas escadarias em direção à rua. Nem viu que vinha um caminhão de lixo que a atropelou e pôs fim em sua agonia.
Dali em diante, conta-se que a noiva ispilicute sempre volta para a porta do templo. Toda a última sexta-feira, dia do casamento, ela reaparece assombrando o povo sobralense e provocando os piores desastres. Eu nunca a vi. Mas sempre ouço suas gargalhadas.
Texto colaborativo criado por
Nayane Souza
Karolinda Oliveira
Valdelice Costa
Edioneide Ramos
Francisco Albuquerque
Oficina de Escrita Criativa, Sobral, 17 de setembro de 2013.

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